Além das Primeiras Impressões: Uma Lição de Responsabilidade

Uma vez, fui delegado para uma convenção de saúde mental que ocorreria em uma universidade da região. Lá, eu participaria junto com usuários e funcionários da rede de saúde para votações que colocariam projetos de lei em andamento, para serem discutidos em Brasília e, quem sabe, concretizados.

Lá, meu olhar cruzou com o de uma garota que sorriu e fez meu coração acelerar. Eu não conseguia focar em nada além do seu sorriso; meus pensamentos ficaram confusos e tive certeza de que deveria aproveitar a oportunidade para pegar seu número. Mas não fiz isso.

Como a convenção durava dois dias, no segundo dia, observei-a de longe. Ela andava de um lado para o outro, conversava com os figurões na frente, ajudava na produção e organização das coisas; parecia alguém determinada. Inclusive, havia sido ela quem mediou a votação anteriormente.

Com a ajuda dos meus acompanhantes, o psicólogo e a assistente social, consegui arranjar coragem, mas logo de cara faltaram oportunidades. Orei muito para que Deus me desse sinais, para ajudar a cruzar nossos caminhos e, imagine só, ela sentou-se atrás de mim. Ao término de tudo, ela ainda por cima esqueceu os fones no chão e eu os encontrei. Fui buscar a garota para lhe entregar e aproveitei para pedir seu número. Quase morri de ansiedade e, no final, fiquei incrédulo por ter conseguido.

Isso foi um ponto extremamente impactante na minha vida. Eu nunca achei que fosse conseguir pedir o número de alguém, assim como nunca achei que alguém me passaria o número. Isso rompeu com uma das minhas maiores crenças limitantes: a crença de que não posso fazer as coisas acontecerem.

Infelizmente ou felizmente, no decorrer da nossa conversa online, descobri que ela era menor de idade. Quando a jovem me informou, todas as peças se encaixaram, e foi como se um véu caísse dos meus olhos. Era óbvia a idade dela se eu prestasse atenção aos detalhes, mas acredito que, devido ao autismo, não foquei no quadro geral, mas apenas em fatos soltos, como o sorriso, os olhos azuis, o sapato charmoso. Sem contar que ela agia como adulta e eu realmente acreditei que trabalhasse na faculdade!

EU ME SENTI A PESSOA MAIS BURRA DO MUNDO POR NÃO TER PERCEBIDO O ÓBVIO!

Foi tão frustrante, pois não tenho interesse romântico em uma adolescente, ainda mais uma menina que conseguia ser mais nova que meu sobrinho. Foi muito bizarro descobrir essa informação!

Eu a orientei a informar aos pais que tinha feito um amigo mais velho, pois queria continuar mantendo contato. Ela disse que não seria necessário, porque eu não tinha segundas intenções. Cheguei a cogitar esperar ela crescer e até mesmo propus isso, mas logo me dei conta de quão estranho isso era. A garota concordou em não nos falarmos mais e, hoje, fico me questionando o que eu tinha na cabeça.

🧠😑

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