Cumplicidade e Conflito: Memórias de uma Amizade Complexa [ALERTA DE GATILHO: Manipulação, Controle e Assédio Sexual a Figuras de Controle]
Quando eu era muito jovem e bastante solitário, minha única amiga era minha prima. Ela era uma criança sapeca, escondia os chinelos das pessoas, arrancava a saia da tia, puxava minha calça no bebedouro da escola, tirava minha cadeira quando eu ia me sentar e, de fato, mandava em mim. No entanto, como mencionei antes, ela era minha única amiga.
Lembro-me de uma experiência bastante incomum. Entramos no carro do meu pai, eu coloquei o cinto e ela usou a chave para me mostrar como o para-brisa funcionava. Não apenas o para-brisa se moveu, mas o carro também, derrubando o muro de casa.
Durante a adolescência, dormíamos na casa um do outro, acampávamos no quintal e passeávamos juntos. Minha prima tinha um domínio sobre mim, pois eu era sempre muito inocente, e me arrastava para lugares onde eu não me sentia confortável. Inclusive, foi ela quem me trouxe para a igreja evangélica.
Eu era seu confidente. Tudo o que ela fazia, do mais contraditório ao mais banal, ela me contava. Entre tantas coisas, várias eram mentiras, que eu não captava na época. Ela flertava com professores e adultos em geral, pois com a morte do nosso avô, sua única figura paterna também se foi.
Ela arranjou problemas com um homem da região e convenceu os irmãos da igreja a irem à casa dele para ameaçá-lo por importuná-la. Outra situação escandalosa envolveu mensagens que ela enviava para o líder da congregação, de cunho adulto e romântico. O homem e sua esposa a confrontaram pelo desrespeito, e ela não demonstrou vergonha, arrependimento ou medo. Sequer passou a evitá-los.
Na escola, as pessoas a evitavam e a apelidaram de "chave de cadeia". Ela se gabava de convencer amigas chatas a se mudarem, contava seus planos mirabolantes para mim e não demonstrava compaixão quando algum adversário morria.
Para melhorar minha compreensão das relações sociais, comecei a estudar linguagem corporal, a entender melhor os sentimentos e expressões faciais. Foi então que percebi o quanto ela era boa em dissimulação. Para me convencer a fazer faculdade com ela, passou a me tratar muito melhor, ouvir atentamente meus interesses e considerar minhas opiniões, por exemplo.
Mas na faculdade, ela me impedia de sentar onde eu queria, de sair e de fazer as coisas que eu desejava. Não aturava meu ritmo de estudos, sendo que durantes as provas ela respondia com o celular bem ao lado. O pior foi quando ela quis trocar de curso e tentou me convencer a fazer o mesmo. Quando recusei, ela inventou um perseguidor imaginário, escreveu uma carta de ameaça para si mesma e abriu um boletim de ocorrência. Acredite, não foi a primeira vez que ela fez isso. Reciclou a ideia de outro momento da vida em que usou a mesma estratégia para conseguir algo. Ela também convenceu os irmãos de que meu curso era demoníaco, o que me desanimou profundamente.
Eu desisti. Achei que não era capaz de fazer nada sozinho. 🎭😠
Hoje, ela está fora do país, aparentemente por arranjar confusão com gente perigosa. Lá na Inglaterra, teve um bebê, garantindo sua permanência. Fico triste por tudo ter acabado desse jeito, mas foi melhor assim.
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