O Peso de uma Palavra (Aviso de Gatilhos: Pensamentos de Morte, Bullying)

A escola nunca foi um lugar acolhedor para mim. Estava sempre cheia de adolescentes agindo como adolescentes, algo que eu nunca fui. Como uma forma de autopreservação, passei a me esconder dentro de mim mesmo, tornando-me o mais invisível possível. No entanto, as situações de pressão ainda surgiam, e vou contar sobre uma delas, a que mais me impactou. 📚😵

 

Um novo professor de filosofia apareceu na minha escola. Ele não tinha muita paciência, mas conseguia impor ordem na classe. Por mais que eu me esforçasse em suas aulas, era sempre criticado. Isso não era o problema em si, mas sim a forma como eu lidava com essa situação, reprimindo meus sentimentos repetidamente. 

  

Em uma atividade proposta por ele, acabei me enrolando. A atividade consistia nos alunos formarem um círculo com as carteiras, escreverem seus nomes em um papel e, ritmicamente, passarem o papel para o colega à direita, que deveria escrever algo sobre a pessoa a quem o papel pertencia, até os papeis darem uma volta completa. Simples, mas não para mim. Fiquei tão ansioso e pressionado pelo tempo que comecei a escrever a primeira coisa que me vinha à mente. Segundo ele, a atividade tinha esse efeito sobre nossas cabeças. 

  

Para Paula, escrevi "Cachorro", para Jorge, "Gato", para Lívia, "Saci" e, pior, para a jovem mais quieta da turma, a mais tímida, escrevi "Morte". Deixe-me explicar novamente: eu não havia entendido que era para escrever a primeira coisa que pensássemos sobre a pessoa! Coloquei palavras aleatoriamente, e "morte" era um dos meus pensamentos intrusivos. Me senti muito mal pela menina. 

  

Foi uma longa e torturante semana. Eu precisava consertar esse erro para que a jovem não pensasse que alguém realmente desejava algo ruim. Mas como eu convenceria a todos que fiz sem querer? Acredite em mim, eu estava prestes a explodir! 

  

Nessa fase da minha vida, eu realmente queria morrer, pois em casa era recebido pelos gritos do meu irmão que queria me bater. Morte era um dos meus pensamentos recorrentes. Então decidi usar isso a meu favor e a favor de minha colega que não merecia receber um papel com "MORTE" destinado a ela. 

  

Eis o que eu disse na frente de toda a sala, com tanto medo que estava em lágrimas: 

“Eu não tinha entendido a brincadeira, então coloquei os animais porque penso neles e a morte porque quero morrer!” 

  

Foi a coisa certa, e a mais convincente a se fazer. Se eu dissesse simplesmente que foi sem querer, ninguém acreditaria, e a menina realmente pensaria que alguém desejava sua morte. Se eu ficasse anônimo, ela continuaria acreditando que queriam ela morta.  

  

Fiquei muito irritado por chorar! 

 

Enfim, tive uma conversa com meu professor, ele conversou com meus colegas, e na próxima aula, eu estava bem melhor. Numa das tarefas, coloquei não somente a resposta como um complemento e entreguei animado. Meu professor brigou comigo, gritou e me mandou sentar por causa disso. Eu realmente não entendi essa reação. Só sei que decidi desistir da escola. 

  

Estava tranquilo ficar em casa, até o conselho tutelar bater à minha porta, me obrigando a voltar, depois de três meses. Ele me tratou muito melhor. No final do ano, pediu perdão a todos, caso tivesse magoado algum de nós. Eu perdoei, não guardo ressentimentos. Deu para ver que tentou restaurar nossa relação. 

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