Entre o Isolamento e a Busca por Conexão

Tenho pensado muito na secretária do CAPS e tento entender por que essa fixação surgiu. Essa reflexão faz parte de algo maior: minha dificuldade em formar amizades presenciais. Eu só consigo me aproximar de pessoas que despertam em mim um sentimento especial, algo que considero realmente significativo.

O que eu mais desejo é ter um motivo para sair de casa e viver alguma forma de reciprocidade — dar e receber afeto de alguém que seja importante para mim. (Cheguei até a cogitar adotar um gato para preencher esse vazio! 🐈)

A atração que sinto ali vem, em parte, da semelhança que percebo entre nós. Nossas interações sempre foram rápidas e profissionais, porque faço questão de respeitar o ambiente de trabalho. Em uma das viagens do grupo nos conversamos um pouco, doutra vez comentei que ela tinha traços de autismo, assim como eu. Meses depois, ela parou o que estava fazendo para me confirmar que meu palpite estava certo — ela havia recebido um diagnóstico recentemente.

Desde então, sinto uma vontade forte de pedir o número dela para conversarmos sobre autismo e, talvez, diminuir a sensação de solidão que me acompanha.

A dificuldade em me aproximar das pessoas é constante. Só consigo criar vínculo quando surge essa sensação especial. E essa busca por conexão se intensifica pelos meus atravessamentos:

Sou autista.

Sou arromântico e assexual.

Moro em um lugar isolado, onde os ambientes que frequento são dominados por adolescentes ou idosos, o que dificulta encontrar pessoas da minha faixa ou com interesses parecidos.

Não me sinto independente, não acho que tenho comportamento ou voz de “adulto” e acredito por isso que não seja atraente. Essa insegurança me impede de expressar qualquer sentimento, porque sei que pareço “estranho” e nunca seria visto como uma opção por ninguém.

Sempre que tento me aproximar de alguém, algo atrapalha. Quando tive uma namorada, o encontro presencial não funcionou. Outras pessoas com quem interajo estão em contextos que não permitem aprofundamento ou não se sentem totalmente confortáveis perto de mim.

Embora eu não sinta atração romântica, o desejo de não estar sozinho e de encontrar um “encaixe” — alguém com quem a conexão seja natural e profunda, que rompa o isolamento — é o que me frustra.

Porquê todo mundo tem esse direito e tudo conspira contra mim?

É errado querer ser amigo dela? 

Acho que a solidão dá um senso de urgência que não deveria existir. 

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