Sob o Peso da Religião (ALERTA DE GATILHO: Religião)
O destino às vezes nos prega peças, e, em outras vezes, nos prega num caixão. Sei que estive me sentindo vulnerável, ontem mesmo. Sentindo que Deus não me acolheria, como na época em que frequentava sua santa casa, temendo cada pregação incisiva e punitiva.
Pois bem, neste estado em que me encontro, irmãos virão fazer um culto aqui. Uma ótima oportunidade para me incutirem o terror da desobediência. Se não vou à igreja ser influenciado pela retórica punitivista, a igreja vem até mim! Segundo eles, minha decisão — e eu sei que pensam assim — é fruto da minha ingenuidade e do tempo que passo na frente do computador. Nosso cooperador (equivalente a pastor) veio me perguntar por que eu havia parado com a religião, logo cedo, quando deram pela minha falta. Pedi que respeitassem minha decisão, ao que ele respondeu: "É meu dever saber o que está acontecendo! Você está trocando Deus pela internet!" — uma afirmação sem muito nexo.
Eles se questionam o tempo inteiro sobre o motivo que me fez abandoná-los. E sim, é esse o termo que usam: "abandono". Então, para vocês, queridos leitores, vou listar esses motivos:
- A religião era repleta de preceitos machistas, homofóbicos, transfóbicos, etc. Vejam só: mulheres são proibidas de pregar ou de ter cargos maiores na congregação; divórcio é proibido, mesmo em casos de violência doméstica; e qualquer relação fora do padrão é considerada fornicação. Certa vez, um ancião proferiu uma das frases mais célebres que já tive o desprazer de ouvir: "Nós devemos respeitar o relacionamento homossexual, apenas não podemos compactuar com essa aberração." Me diga você: apenas isso já não é razão suficiente?
- As regras eram excessivamente restritivas: proibido masturbação, namorar alguém fora do nosso núcleo cristão, sexo antes e fora do casamento, sexo não convencional, morar com namorado(a), ficar sozinho com alguém do sexo oposto, ver filmes, séries, novelas e vídeos para entretenimento, ler livros para entretenimento, ouvir músicas, ir a festas de qualquer gênero, visitar outras igrejas; ao homem, era proibido usar bermudas ou regatas, deixar a barba ou o cabelo crescerem; às mulheres, era proibido cortar ou pintar os cabelos, pintar as unhas, usar calças em vez de saias longas, roupas decotadas, maquiagem ou fazer procedimentos estéticos. Proibido também se impor ao marido, entre tantas outras coisas.
- Política: um irmão começou a pregar que Bolsonaro era um enviado de Deus, e outros começaram a se apegar ao discurso, atribuindo à esquerda a influência do demônio.
- O medo que a religião incutia nos fiéis: já ouvi dizer que uma das irmãs contraiu uma doença terrível por ter sido desobediente. Em outras palavras: "Seu câncer é culpa sua!" Já ouvi esse discurso até mesmo contra mães que perderam seus filhos! Eu vivia me culpando, com medo de ser castigado. Até hoje, não consigo me livrar desse sentimento! Os irmãos literalmente nos ameaçam! Isso eu não estou mais disposto a aceitar!
É sempre a mesma história: eu os abandonei, abandonei minha mãe, a quem acompanhava, fazendo-a perder seu incentivo, abandonei o dom de músico que me foi dado por Deus, abandonei meu instrumento, que foi providenciado pelos irmãos, assim como todos aqueles ternos presenteados, implicitamente esfregando minha ingratidão na cara. Pode não parecer, mas isso acumula em mim uma culpa da qual é difícil me livrar. Às vezes, até parece que eles sabem disso e fazem uso dessa culpa! Vocês acreditam que me forçaram a orar outro dia? Que me deram, inclusive, um novo terno? Como se tudo o que eu disse não fosse sério! 💥😠
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