Cuidando e Contendo: Abordagens Especulativas para Gerenciar Crises no CAPS

Hoje, dia 03/06, meu colega de CAPS, uma pessoa com autismo, se excedeu e desacatou os funcionários, agindo de forma inflexível e violenta. Para contê-lo, a polícia foi chamada. Diante desse incidente, pensei em compartilhar minha opinião sobre possíveis estratégias para moderar o comportamento dele. (As estratégias estão desatualizadas, pois o texto foi escrito a muito tempo, após uma discução em que ele afirmou algo e sustentou sua opinião desrespeitanso os demais colegas.)

Vou me referir a ele como Acelerado.


A empolgação do Acelerado com os dias de grupo terapêutico se deve ao fato de ser o único ambiente onde ele pode falar de seus interesses de forma livre. Quando não tem a oportunidade de falar sobre seus hiperfocos, tudo se acumula e explode na primeira chance que tem de se expressar. Isso explica o fluxo interminável e ansioso de informações sobre geopolítica e moralidade.

Recentemente, percebi algo curioso. Quando Acelerado ouve uma informação que contraria suas ideias já internalizadas ou seus interesses, ele a toma como verdade absoluta. Essas "verdades" são irrefutáveis para ele e, quando questionadas, despertam sua arrogância. Há um claro senso de superioridade que, na verdade, esconde uma fragilidade. Acredito que esse "senso" seja uma muralha criada para se proteger de anos tendo suas ideias, posições, interesses e identidade menosprezados.

Acredito que, no fundo, ele se pergunte por que ninguém apoia suas ideias, aceita sua identidade única ou valida seus interesses ao longo de sua vida. Pensar que a culpa é sua pode ser doloroso, então a maneira mais eficaz de preservar sua autoimagem é negar a realidade: “O problema são sempre os outros, não eu.” Prova disso são suas frases: “Todo mundo é negacionista em minha casa” - “Estão todos contra mim” - “Estou sempre errado, não é?” - “Lá em casa, todo mundo me acha um louco.”

Talvez essa dificuldade em lidar com críticas e discordâncias de opinião tenha raízes mais profundas que a rigidez cognitiva. Mas não há dúvidas de que não entender o impacto de suas atitudes sobre os outros contribui para o problema. Isso é uma característica do autismo, e levar isso em consideração é essencial.

A abordagem que acredito ser mais funcional é pragmática: “Você tem liberdade para expressar sua opinião, mas está proibido de rotular, gritar ou menosprezar algum colega, sob pena de X consequências.” É uma solução a curto prazo, pois o problema não será resolvido, apenas evitado.

Para o tratamento, acredito que seria necessária uma abordagem dialética. Um desafio seria mantê-lo focado na atividade terapêutica, já que o CAPS é, para ele, um ambiente de diversão e não de tratamento (exceto para obter benefícios). Quando a reflexão fosse sugerida, Acelerado provavelmente se esquivaria para conversar sobre temas mais interessantes. Seria necessário algum tipo de acordo sobre temas proibidos, talvez até a metade da consulta.

Outro desafio seria que, ao ser confrontado, ele tenderia a justificar suas ações em vez de refletir sobre elas.


Dada a recente ocorrência, pode ser que uma intervenção mais intensiva seja necessária; contudo, somente um profissional qualificado pode fornecer a orientação ideal. 🔗😥

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